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Na semana do Dia Nacional do Mar (12/10), conheça o #DeOlhoNosCorais, que mostra como identificar ameaças, acompanhar e desenvolver estratégias de conservação dos recifes

Famosos por sua beleza, os corais brasileiros são seres vivos, que se alimentam e reproduzem, e representam apenas 1% do fundo marinho, mas sustentam cerca de 25% de toda a biodiversidade dos oceanos. São berçários para peixes, fonte de sustento para comunidades costeiras, barreiras contra a erosão e forte atrativo turístico. Mas esse patrimônio natural tão rico está sob risco crescente. Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Mar (12 de outubro), o #DeOlhoNosCorais, coordenado pelo Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mostra o exemplo de ciência cidadã aplicada a um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta.
O projeto envolve diversos públicos, que podem participar ativamente das pesquisas e ajudar a proteger os corais. Como explica o biólogo e professor da UFRN Guilherme Longo, que também é membro da Linha 1 (Coprodução e Engajamento Social em Iniciativas de Ciência Cidadã) do Instituto Nacional de Ciência Cidadã (INCC) e coordenador do #DeOlhoNosCorais, ondas de calor marinhas, poluição e sobrepesca têm levado a episódios cada vez mais frequentes de branqueamento – o que acontece quando os corais perdem suas algas simbióticas, ficam esbranquiçados e podem morrer. Nos últimos anos, o Brasil já enfrentou quatro eventos severos desse tipo, com perdas significativas de biodiversidade, e contar com cidadãos nesse enfrentamento tem feito a diferença.
Nós ficamos surpresos com o engajamento e impacto da iniciativa. Rapidamente tivemos contribuições ao longo de toda a costa brasileira, durante eventos de branqueamento e até durante a crise do óleo. Acho que um dos resultados mais significativos foi a detecção de uma espécie invasora nos litorais potiguar e pernambucano, ambas feitas por diferentes cientistas cidadãos, e que desencadearam ações de controle dessa invasão na escala estadual e na federal”, comemorou o pesquisador.
A criação do projeto
Segundo o pesquisador, embora a gravidade da situação do aquecimento tenha avançado, o conhecimento também teve muitas conquistas e mais pessoas interessadas no assunto. “O ponto negativo é que desde 2016 tivemos outras três ondas de calor severas que causaram mortalidade muito significativa dos corais. Agora sabemos que perder corais significa também perder peixes associados e outros benefícios importantes como o turismo, temos previsões de mudanças de distribuição e das interações ecológicas entre organismos”, detalha. A equipe usa então essas informações para estimular soluções e mudanças de comportamento.
Foi nesse contexto de urgência que surgiu o #DeOlhoNosCorais como uma rede nacional de monitoramento colaborativo criada em 2016. A ideia, explica Longo, era dupla: comunicar a ciência como processo, mostrando incertezas, erros e acertos; e engajar a sociedade, permitindo que qualquer pessoa fotografasse ou filmasse corais e compartilhasse o material com a hashtag e a localização.
A estratégia deu certo e diversos registros passaram a chegar de toda a costa brasileira, que mostram exemplos de branqueamento e também em crises como a do óleo, em 2019, quando manchas de petróleo cru atingiram mais de 2.000 km do litoral do Nordeste, causando impactos duradouros no ecossistema e na fauna.
O projeto se apoia em múltiplas frentes. Nas redes sociais, alcança mergulhadores, jovens e entusiastas do mundo marinho. Já no Museu dos Corais, que fica em Maracajaú (RN), o público é formado por turistas e estudantes. Além disso, há atividades com mergulhadores recreativos e até técnicos de órgãos ambientais. “Eu vejo o engajamento como uma relação humana. Não tem receita de bolo. A gente precisa ouvir e conectar para dar certo”, resume Longo.
O resultado desse trabalho é visto dia a dia. A descoberta no litoral do RN, por exemplo, citada por Guilherme, contou com a bióloga, fotógrafa subaquática e instrutora de mergulho Erika Beux. Ela registrou colônias do coral-sol em um naufrágio. Esse acontecimento a aproximou da equipe de pesquisadores. “Um tempo depois, o professor Guilherme entrou em contato comigo e me convidou para participar das expedições de pesquisa. Foi uma experiência maravilhosa e aprendi muito com a equipe do #DeOlhoNosCorais.”
Em seu perfil e na rotina profissional, Erika incentiva as pessoas a serem cientistas cidadãs e ajudarem os projetos. “Saber que minhas fotografias contribuem para a ciência e para a preservação da natureza é um sentimento de imensa realização. É como se cada foto tivesse um propósito maior: transformar a beleza que vejo em informação, em conscientização e, principalmente, em ação”.
Fonte: Agora RN
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