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Centro independente investe em formação, diversidade e democratização do acesso à arte

No coração do bairro da Ribeira, um dos mais antigos de Natal, a Casa da Ribeira celebra 24 anos de atividade como um dos principais polos culturais independentes do Rio Grande do Norte. Fundado em 6 de março de 2001 por jovens atores do grupo Clowns de Shakespeare, o espaço nasceu da ocupação de um casarão de 1911 então abandonado e se tornou referência em educação, formação de público e democratização cultural.
Desde a inauguração, a Casa já abrigou mais de 2 mil espetáculos, com público superior a 542 mil espectadores. A estrutura conta com teatro e cinema de 164 lugares, sala multiuso, café literário com mais de 1.500 títulos e, desde agosto, uma moderna sala de exibição de rua equipada com projetor 4K e som imersivo surround 5.1 – um marco para a retomada do cinema independente em Natal.
A Sala de Exibição foi inaugurada em agosto durante o +Festival Originalidades. “A necessidade da existência dessa sala é grande, porque, desde o ano de 2003, a gente não conta com uma sala de exibição de rua”, destaca Alessandra Augusta, presidente da Casa da Ribeira. Ela acredita que o espaço abre novas possibilidades para o circuito audiovisual em Natal. “Nós acreditamos que as distribuidoras do Brasil inteiro e os realizadores audiovisuais agora conseguem passar pela cidade cumprindo esse circuito”.
Apesar dos números expressivos, a trajetória não tem sido simples. “Gerir um espaço tombado, com três andares e no bairro da Ribeira, é um grande desafio. A Ribeira é um lugar estigmatizado, visto como perigoso e abandonado pela gestão pública. Mesmo assim, a Casa da Ribeira continua viva, promovendo atividades culturais de alta qualidade e recebendo artistas de todo o Brasil e do mundo”, afirmou Alessandra.
A sustentabilidade do espaço depende, sobretudo, da criação de projetos e inscrições em editais – responsáveis por 80% dos recursos –, além da locação de pautas. Não há apoio público ou privado fixo para manutenção direta.
Ao longo de sua história, a Casa também se consolidou como escola de formação artística. Iniciativas como o projeto ArteAção e, mais recentemente, a Escola de Criação, lançada em 2023, oferecem formação gratuita a jovens da rede pública, com prioridade para estudantes negros, periféricos e LGBTQIA+.
Para Alessandra, a Casa apresenta ainda uma contribuição significativa para o fortalecimento da economia criativa local. “Desde o primeiro ano, promovemos a economia criativa com editais e chamadas públicas, permitindo que artistas se apresentem e desenvolvam seus projetos. O projeto ‘Cena Aberta’, por exemplo, já permitiu que mais de 30 grupos passassem pelo palco da Casa”, explicou.
Casa + Negra Diversidade
O programa Casa + Negra Diversidade, em vigor até 2028, reforça o compromisso ao assegurar cotas em todas as ações, fortalecendo uma prática afirmativa e decolonial. “Esse recorte e trabalhar com grupos periféricos, com as escolas, nos dá um retorno que quase metade dos educandos e das educandas das salas de aula do ensino público de Natal são pessoas negras e pardas”, destacou.
A presença da Casa na Ribeira, território historicamente marginalizado, é também uma forma de resistência e ocupação simbólica. Alessandra relatou que o prédio já sofreu diversos furtos e, recentemente, passou por um problema elétrico que danificou diversos equipamentos.
Entre furtos, dificuldades financeiras e ausência de políticas públicas estáveis, o espaço mantém-se ativo como organismo vivo de criação, inspiração e diálogo com a cidade. “Aqui, as pessoas têm um lugar de pertencimento, de afeto, de respeito. Isso é o que nos move e nos mantém vivos”, frisou a gestora.
Fonte: Agora RN
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