A redução foi mais acentuada justamente nos produtos de maior peso na pauta exportadora potiguar.

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Desde que os Estados Unidos passaram a aplicar novas tarifas sobre produtos brasileiros, em agosto, o Rio Grande do Norte viu suas exportações para o mercado norte-americano encolherem. Entre agosto e outubro, o estado registrou US$ 9 milhões em vendas externas para os EUA — queda de US$ 3 milhões (25%) em relação ao mesmo período de 2024. Apesar da retração no trimestre, o acumulado de janeiro a outubro de 2025 segue em alta, com US$ 38 milhões a mais do que no ano anterior, segundo levantamento do Observatório da Indústria – MAIS RN, da FIERN. O estudo também aponta que, até o momento, o recuo não gerou impacto negativo sobre o emprego.

A redução foi mais acentuada justamente nos produtos de maior peso na pauta exportadora potiguar. Juntos, eles registraram déficit de US$ 4,2 milhões, equivalente a uma queda de 40,8%. O pescado (atum) foi o item mais afetado, com redução de 72% nas vendas, o que representa uma perda de US$ 2,4 milhões. Também tiveram desempenho negativo o sal (-46%), as frutas (-29%), as pedras para construção (-29%) e os produtos de confeitaria (-27%).

“O setor de pescados, especialmente o atum, teve uma queda de 72% no período. Era algo que já se previa, mas os dados confirmam o impacto. O atum é um produto perecível, com exigências específicas em cada país, o que impede o redirecionamento rápido das exportações”, afirmou Pedro Albuquerque, assessor técnico do Observatório. Ele lembra que o início do ano havia sido promissor: “Tudo indicava que 2025 seria um dos melhores anos da balança com os Estados Unidos, mas o tarifaço mudou completamente o cenário.”

Mesmo com a desaceleração nas vendas, os empregos se mantiveram estáveis. Dados do Caged mostram que não houve demissões em massa entre os setores afetados.

“As demissões praticamente não ocorreram, e em alguns casos houve até aumento nas contratações”, disse Pedro.

De acordo com o levantamento, o setor salineiro abriu 41 novas vagas entre agosto e outubro, e a fruticultura contratou 545 trabalhadores.

A estabilidade é atribuída às medidas compensatórias do Governo do Estado, como a ampliação do PROEDI e a antecipação do ICMS de exportação, que ajudaram a preservar a competitividade das empresas.

“Esses benefícios ajudaram as empresas a manter empregos e competitividade, mesmo com as tarifas mais altas”, destacou o técnico.

Ainda assim, o impacto financeiro foi inevitável.

“As companhias estão absorvendo parte do custo tarifário, o que reduz o ganho, mas garante a presença no mercado e a continuidade das operações.”

O secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do RN, Hugo Fonseca, reforçou a importância dos incentivos fiscais.

“Mesmo com produtos taxados em 50%, a redução do ICMS deu competitividade para manter as vendas ao mercado americano”, afirmou.

Apesar da retração no trimestre, o desempenho acumulado do ano mostra resiliência. De janeiro a outubro de 2025, o RN exportou US$ 82 milhões para os Estados Unidos, um crescimento de US$ 38 milhões em relação a 2024. O salto é explicado principalmente pelo avanço das vendas de óleos de petróleo, que subiram de US$ 400 mil no ano passado para US$ 24 milhões neste ano — quase 30% de toda a pauta exportadora potiguar.

“O desempenho mostra que, apesar das barreiras tarifárias, o RN mantém sua resiliência e capacidade de diversificação produtiva”, concluiu Pedro Albuquerque.


Outubro marca reação nas exportações

Depois de dois meses de queda, outubro trouxe sinais de recuperação. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o Rio Grande do Norte registrou superávit de US$ 3,8 milhões na balança comercial com os Estados Unidos — alta de 459% em comparação ao mesmo mês de 2024, quando o saldo havia sido de US$ 683,2 mil.

Enquanto as importações vindas dos EUA somaram US$ 1,5 milhão, concentradas em insumos industriais como coque de petróleo, tintas e polímeros, as exportações alcançaram US$ 5,3 milhões, puxadas pela fruticultura irrigada e pela indústria de transformação.

Entre os produtos de destaque estão o açúcar de cana (US$ 2,9 milhões), caramelos e confeitos (US$ 688,2 mil), pedras de cantaria (US$ 535,5 mil), mangas frescas (US$ 504 mil) e sal marinho (US$ 354 mil).

“Atribuímos ao período do segundo semestre, quando crescem as exportações de frutas e doces por causa do Halloween nos Estados Unidos”, explicou Hugo Fonseca.

A alta na demanda por sal marinho também contribuiu para o bom resultado.

O presidente do Sindicato da Indústria de Sal do RN (Siesal), Airton Torres, pondera que a melhora de outubro foi pontual.

“O tarifaço impôs uma condição muito severa e adversa ao sal, sendo certo que o único embarque ocorrido em outubro/2025 foi fruto de acordo previamente realizado”, pontua.

Segundo ele, as empresas salineiras vivem um momento de resistência.

“As salinas exportadoras vivem o dilema de vender, mesmo que sem margem, para continuar no mercado, enquanto aguardam um acordo comercial entre os países.”

Com informações da Tribuna do Norte

Jornalista | Palestrante | Assessora de Comunicação | Consultora em Gestão de Crise de Comunicação | Apresentadora de rádio e televisão.

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