Audiência pública debate projeto de urbanização e paisagismo.

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A Prefeitura do Natal realizou nesta sexta-feira 31 o primeiro grande debate público sobre o futuro da orla de Ponta Negra. A audiência, realizada em um hotel da região, reuniu técnicos, moradores, empresários, pescadores, vereadores e representantes de universidades e entidades civis. O encontro marcou o início oficial do processo que vai definir o novo projeto de urbanização e paisagismo da praia, considerado o principal cartão-postal da capital potiguar.

“Este é um momento de escuta real, um termômetro da cidade. Estamos aqui para ouvir críticas, sugestões e construir juntos o projeto da nova Ponta Negra”, disse o secretário Arthur Dutra, coordenador do Grupo de Trabalho “Nova Ponta Negra”, criado pelo Decreto Municipal nº 13.370/2025. Segundo ele, o processo será conduzido “com transparência, técnica e participação popular”, e culminará em um concurso nacional de arquitetura organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

O grupo é formado por secretarias de Turismo, Infraestrutura, Mobilidade, Governo, Comunicação, Serviços Urbanos, Planejamento, Esporte e Lazer e pela Procuradoria-Geral do Município. “Nenhum projeto será feito a portas fechadas. A cidade inteira poderá opinar sobre o que quer ver na nova orla”, afirmou Dutra.

Durante a audiência, foram apresentadas as nove premissas que orientarão o edital do concurso público, entre elas a ampliação da caminhabilidade, o respeito à topografia local, a criação de áreas verdes, o uso de materiais sustentáveis e a garantia de acessibilidade universal. O documento também determina que o projeto preserve a identidade cultural e paisagística de Ponta Negra, promova espaços para lazer e convivência, e estimule a resiliência costeira diante dos impactos das marés e da urbanização.

A arquiteta Ana Luiza Lamas, da Secretaria de Planejamento, apresentou o diagnóstico técnico preliminar, que delimita 2,8 quilômetros de extensão e cerca de 88 mil m² de área de intervenção, entre o Morro do Careca e o Hotel Aram. “A orla é um organismo vivo. Tem setores de comércio, serviços, hospedagem, pesca e moradia. Precisamos respeitar essa diversidade de usos e usuários”, afirmou. Segundo ela, o projeto deverá corrigir falhas antigas, como ausência de arborização, acessibilidade precária e drenagem deficiente.

As discussões revelaram consenso em torno da necessidade de mais verde, sombra e conforto térmico, mas também divergências sobre a forma de integração entre turismo e comunidade local. O empresário Jorge Gosson, do Natal Convention Bureau, defendeu o reflorestamento imediato da faixa litorânea. “Ponta Negra perdeu dezenas de coqueiros e árvores ao longo dos anos. O modelo ideal não é o de Fortaleza, e sim o de Santos: uma orla viva, arborizada e cheia de sombra”, afirmou.

O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, José Odécio, apoiou a proposta e pediu que o projeto “integre o calçadão à Via Costeira, criando um corredor turístico e esportivo que reduza a dependência do carro”.

A vereadora Brisa Bracchi (PT) alertou que o novo projeto “precisa acolher e valorizar a pesca artesanal, as rendeiras e a cultura popular da Vila de Ponta Negra”. Ela sugeriu que o termo de referência reserve “um espaço de artesanato e de valorização cultural”. Brisa também defendeu que, mesmo que arquitetos de fora possam participar do concurso, “a execução da obra envolva profissionais potiguares”.

Entre os representantes da comunidade, a marisqueira Rayane, do Conselho Comunitário da Vila de Ponta Negra, apresentou uma fala contundente. “A obra de engorda trouxe impactos sérios e falhas na drenagem. Precisamos de um comitê gestor com poder real de decisão, formado por pescadores, mulheres, jovens e moradores. Não aceitamos que o projeto avance sem corrigir os erros que continuam alagando a praia”, afirmou.

Outras falas reforçaram a necessidade de dividir o projeto por trechos geográficos da praia. A empresária Thais Beretta, do setor náutico, sugeriu “reuniões específicas com cada grupo de trabalhadores”. “As necessidades de quem atua perto do Morro do Careca são diferentes das de quem está na parte central ou na Riviera. E, por favor, lembrem-se das flores. Flores também fazem parte da paisagem”, disse.

O arquiteto Luciano Barros, do IAB, explicou como o concurso será estruturado. “É a forma mais democrática e técnica de selecionar um projeto. Esperamos a participação de cerca de cem escritórios, com uma comissão julgadora de alto nível. Nosso papel é garantir que a cidade escolha a melhor proposta possível, e não apenas a mais bonita”, afirmou.

No encerramento, o deputado Luiz Eduardo defendeu equilíbrio entre “preservação e desenvolvimento”. “O turismo representa 35% do PIB potiguar e 70% dos empregos formais. Podemos crescer sem agredir o meio ambiente. O desafio é harmonizar economia e sustentabilidade”, declarou.

A coordenação do grupo confirmou que haverá duas novas audiências públicas antes do lançamento do edital, e que todo o material está disponível no canal oficial da Prefeitura no YouTube. “Este é o primeiro passo de um processo que precisa ser coletivo”, concluiu Arthur Dutra. “A nova Ponta Negra será construída com a voz da cidade.”

Jornalista | Palestrante | Assessora de Comunicação | Consultora em Gestão de Crise de Comunicação | Apresentadora de rádio e televisão.

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